“Vede como é bom, como é agradável os irmãos viverem juntos!” (Sl 133[132],1).
Caríssimos leitores e leitoras: o Papa Francisco acaba de publicar a sua terceira Carta Encíclica. Depois de Lumen Fidei (“Sobre a Fé”) (2013) e Laudato Si’ (“Sobre o cuidado da Casa Comum”) (2015), temos a oportunidade de nos encantar com as reflexões de Fratelli Tutti (“Sobre a Fraternidade e a Amizade Social”), que em italiano significa “todos irmãos”.
Assinada em 3 de outubro deste ano, na cidade de Assis, na Itália, a referida Carta Encíclica apresenta questões que têm preocupado o Papa nos últimos anos. Trata-se de uma Encíclica de cunho social, dirigida a todas as pessoas, homens e mulheres de boa vontade, sejam católicos ou não, com o objetivo de que todos possam refletir sobre as palavras sábias do Papa e assumir uma abertura cada vez mais ao diálogo.
A Fratelli Tutti é uma Encíclica bastante longa e se divide em 8 capítulos: (1) As sombras de um mundo fechado; (2) Um estranho no caminho; (3) Pensar e gerar um mundo aberto; (4) Um coração aberto ao mundo inteiro; (5) A Melhor Política; (6) Diálogo e amizade social; (7) Caminhos de um novo encontro; e (8) As religiões a serviço da fraternidade no mundo. Ao todo são 287 parágrafos, e o Papa Francisco finaliza sua Encíclica presenteando-nos com duas orações: a primeira dirigida ao Criador e a outra, com o título: “Oração cristã ecumênica”.
Em linhas gerais, a intenção do Papa é que possamos pensar a respeito da dimensão universal do amor fraterno e assim encontrar meios para um novo sonho de fraternidade e amizade social. Afinal de contas, somos membros de uma única humanidade e participantes do mesmo caminho da vida.
A expressão Fratelli Tutti era muito empregada por São Francisco de Assis (1181 ou 1182 a 1226), para propor uma nova forma de vida em consonância com o Evangelho, e convidar todos os homens e mulheres a um amor que superasse toda e qualquer barreira e preconceito. Recorda-nos o que dizia Jesus: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8).
Caríssimos leitores e leitoras: através da leitura da Fratelli Tutti percebemos que muitas das preocupações do Papa são também as de todos nós. Em primeiro lugar, há o alerta de que estamos num mundo fechado. “A sociedade cada vez mais globalizada torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos” (n. 12), diz o Papa Francisco. Em muitas sociedades reinam a desesperança e a desconfiança, as polarizações político-ideológicas, as desigualdades sociais e o enfraquecimento da ética e dos valores espirituais.
Vivemos num contexto que manipula e adultera conceitos como: “liberdade”, “justiça”, “democracia” e “unidade”. O individualismo e o materialismo fazem com que muitos se tratem como estranhos uns aos outros, em vez de se reconhecerem irmãos. Por isso é importante valorizar a “cultura do encontro”, que faz perceber a humanidade que nos une, tanto em suas maravilhas quanto em suas misérias.
A proposta do Papa Francisco é que trabalhemos para um mundo mais aberto, no sentido de que o ser humano só encontra a sua verdadeira plenitude no dom de si mesmo aos demais irmãos e irmãs. Portanto, é necessário promover o bem comum, ou seja, assumir os valores que levam ao desenvolvimento humano integral da pessoa humana. Na Encíclica, o Papa apresenta ideias de como tornar isso uma realidade concreta.
Podemos dar um destaque ao quinto capítulo, que reflete sobre “a melhor política”. Nesse ponto a Encíclica convida a fazer da caridade social a alma da ordem social, política e econômica. Para tanto, é preciso que os agentes políticos estejam a serviço do verdadeiro bem comum; que não procurem apenas garantir votos e popularidade; que não usem a política como meio de crescimento pessoal e financeiro, mas tenham uma visão ampla e incorporem o diálogo com todos em seus projetos.
Caríssimos leitores e leitoras: penso que a Fratelli Tutti tem tudo para ser considerada uma das mais belas e ricas Encíclicas do Magistério da Igreja na atualidade. Procuremos conhecer e ler esta belíssima Encíclica, a fim de que cada um possa contribuir para a extinção dos males que nos afligem e fazer a própria parte na construção de um mundo mais fraterno, mais irmão e mais solidário.
E a todos abençoo.
Publicado no jornal A Federação em 19.11.2020.