A Diocese de Jundiaí, por meio da Cáritas Diocesana e o Fórum Diocesano das Pastorais Sociais, promove no dia 25 de agosto a terceira edição da Jornada da Caridade, com o tema: A importância dos Leigos e Leigas na sociedade e lema “Sal da Terra e luz do Mundo (Mt 5,13-14).
A Jornada da Caridade acontece na Paróquia Santo Antônio, na Avenida Doutor Pedro Soares de Camargo, 724, Bairro do Anhangabaú, Jundiaí, das 8h às 11h30, e é aberta ao público.
O convidado deste ano é o padre Antônio Manzatto do clero da Arquidiocese de São Paulo, doutor Mestre em Teologia pela Universidade de Lovaina (BE) e professor na Faculdade de Teologia da PUC SP. O presbítero realiza também diversas atividades pastorais na Região Pastoral Brasilândia, na cidade de São Paulo.
Aos que desejam participar, a organização solicita que venham de camiseta de sua pastoral, movimento ou associação. O lanche será comunitário.
Abaixo, confira uma amostra do pensamento e o que diz o Padre Manzatto sobre a Importância dos leigos sa sociedade. Mas, se você participar da Jornada da Caridade, no dia 25, vai saber muito mais.
Entrevista
O VERBO: Padre, o senhor é uma pessoa dedicada a vivência e difusão da Doutrina Social da Igreja (DSI). Percebemos que a maioria dos leigos desconhece o conteúdo da DSI. Porque isso ocorre?
Padre Manzatto: Vejo isso dentro de um quadro maior. Em primeiro lugar, não são apenas os leigos e leigas que desconhecem o conteúdo do que é tratado na Doutrina Social da Igreja; na verdade, poucos são os agentes eclesiais interessados e dedicados à temática da sociedade. Ainda somos uma igreja muito autorreferencial, nem sempre dóceis ao apelo do Papa Francisco para nos tornarmos efetivamente uma Igreja em saída. Em segundo lugar, talvez por isso mesmo, muito pouco se tem investido efetivamente na formação de leigos e leigas, mesmo depois de uma década de o Documento de Aparecida ter fortemente insistido no tema, e mesmo durante este Ano do Laicato. Ainda somos uma igreja excessivamente clericalista, com pouca atenção ao trabalho de formação de leigos e leigas.
O VERBO: Como o senhor resume o ensinamento social da Igreja?
Padre Manzatto: O ensinamento social da Igreja se inspira, totalmente, no Evangelho de Jesus, e por isso se resume da mesma forma que se pode resumir o próprio ensinamento de Jesus de Nazaré. Muitas vezes entendemos o Evangelho apenas como um ensinamento individual e íntimo, e nisto está o nosso engano. O Evangelho é efetivamente a boa notícia de podermos viver em novos céus e nova terra, em novas estruturas e valores que nos abrem as portas da possibilidade de fraternidade, sempre a partir do horizonte dos últimos da sociedade.
O VERBO: O Papa Francisco publicou vários documentos. Qual é a relação desses documentos com a Doutrina Social da Igreja?
Padre Manzatto: O Papa Francisco tem um documento que é todo ele voltado à Doutrina Social da Igreja: a Laudato sí. Trata-se, efetivamente, da atualização da Doutrina Social para os tempos de agora. Por isso não se atenta exclusivamente à questão ambiental, mas a relaciona com a situação dos pobres, inclusive dos países mais pobres do planeta, e propõe uma nova forma de viver, de organizar as relações sociais. Por isso clama contra a cultura do descarte, que descarta inclusive pessoa, e propõe um sistema social baseado no humano, onde o que tenha valor seja o encontro, o diálogo e a convivência. Aliás, esse documento diz textualmente da postura do Papa, isto é, do ensinamento do Magistério Autêntico da Igreja, sobre as questões de sociedade. Além da Laudato sí, o Papa Francisco tem continuamente apresentado seu pensamento social, seja nos encontros com os Movimentos Sociais, seja em suas visitas ou outras situações.
O VERBO: Qual é o caminho a percorrer para promover a DSI em nossas pastorais, comunidades, paróquias, ou seja, para que o laicato assuma essa dimensão importante da doutrina católica, que diz respeito a dimensão da caridade?
Padre Manzatto: Então, a DSI é exercício de caridade, mas se a gente entender caridade não como simples auxílio ou socorro imediato. Vai além porque pensa a estrutura da sociedade que, ela, deve estar baseada em princípios de humanidade, como a defesa dos direitos fundamentais da pessoa humana, o valor da vida, a destinação universal dos bens, o princípio do bem comum e assim por diante. Creio que já estivemos mais avançados nesta direção quando mais claramente, seguindo o ensinamento da Conferência de Medellin (cujo cinquentenário comemoramos agora em 2018), juntávamos fé e vida, ou seja, a realidade do que cremos com a realidade da vida tal qual ela se nos apresenta. Talvez devamos perder o medo de tratar das coisas de sociedade, do alcance político de nossa opção de fé, porque isso deriva do evangelho de Jesus. Não devemos esquecer que ele foi um preso e condenado político, ou seja, suas opções e comportamentos não foram sem consequência para a dinâmica da vida em sociedade. Somos seus discípulos e seguidores, não é mesmo? O Papa Bento XVI lembrava que a opção preferencial pelos pobres é inerente à fé cristológica, ou seja, faz parte necessariamente da confissão de fé em Jesus.
O VERBO: Muitos grupos de leigos exercem uma caridade afetiva, mais assistencial e de colaboração, buscando minimizar especialmente a desigualdade social. Desses, muitos adotam uma prática social com destaque para a necessidade de mudanças na direção política e econômica para combater a pobreza. O que dizer desse tipo de caridade?
Padre Manzatto: O beato Papa Paulo VI disse que a política é a forma mais elevada de caridade, exatamente porque alcança a estrutura da sociedade. Não podemos esquecer que a pobreza não é fruto do acaso ou de ação divina, mas da organização da sociedade. Ela é quem gera pobreza: o desperdício de alguns e a carência de outros são frutos da forma de organização da sociedade. É claro que atividades de assistência precisam ser desenvolvidas, sobretudo em situações extremas, como aquelas situações em que a Cáritas atua, por exemplo. Precisamos, claro, socorrer os que se encontram em situação de necessidade, como é o caso dos refugiados. Mas se mantivermos o mesmo sistema, continuaremos produzindo refugiados. Daí a importância da ação e da militância política. Porque além de socorrer os necessitados, se procura fazer com que o sistema produza menos desigualdade social. A discrepância dos salários, por exemplo, o desemprego ou o déficit habitacional do país não se resolvem apenas com ações de assistência. É o modelo social que precisa ser enfrentado, sobretudo em tempos em que vemos muitas de nossas conquistas sociais serem confiscadas. Isso não quer dizer partidarização, mas ação política.
O VERBO: Por que se diz que a ação caritativa deve levar a uma ação política?
Padre Manzatto: A gente precisa se convencer que os partidos políticos são necessários e são uma maneira de militância política. Mas não são a única forma de ação política. Os movimentos sociais, a sociedade organizada, as diversas associações intermediárias de participação são também canais e maneiras de se promover a ação política. Não devemos ter medo da política, nem evitá-la, até porque é condição humana. Devemos temer e evitar o mau uso da política, como em tudo na vida. As coisas não são boas ou más em si mesmas, mas elas podem ser boas ou más dependendo do uso que fazemos delas.