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Grech: o caminho sinodal, continuação do “sonho” missionário do Papa Francisco

Grech: o caminho sinodal, continuação do “sonho” missionário do Papa Francisco

Publicamos o texto integral do prefácio do cardeal secretário geral do Sínodo dos Bispos ao livro “Um povo missionário e sinodal. O caminho da Igreja no Terceiro Milênio” assinado pelo frade menor Fabio Nardelli, publicado pela Cittadella Editrice. Um volume que se apresenta como um instrumento de carácter teológico-pastoral e que evidencia uma justaposição “sistemática” entre missão e sinodalidade, particularmente significativa no atual contexto eclesial.

Cardeal Mario Grech *

A justaposição entre missão e sinodalidade: uma justaposição por assim dizer “sistemática”, destacada desde o título. E isto porque missão e sinodalidade não existem uma sem a outra: apoiam-se mutuamente, crescem de par em par e juntas contribuem para traçar o caminho da Igreja no Terceiro Milênio.

Diante do anúncio de um Sínodo sobre a sinodalidade, alguém temeu o perigo de uma “introversão eclesial”, para dizê-lo nas palavras da Evangelii Gaudium (n. 27), ou seja, de uma espécie de um voltar-se da Igreja sobre si mesma e seus mecanismos internos, em contradição com as exigências daquela conversão missionária à qual o momento presente chama os crentes de todo o mundo. Mas, na realidade, o caminho sinodal em curso nada mais é do que a continuação coerente do “sonho” missionário que o Papa Francisco assim ilustrava no mesmo parágrafo daquele documento: Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo actual que à auto-preservação.

A reforma das estruturas, que exige a conversão pastoral, pode ser entendida somente neste sentido: fazer do modo tal que elas se tornem todas mais missionárias, que a pastoral ordinária em todas as suas instâncias seja mais expansiva e aberta, que coloque os agentes pastorais em constante atitude de «saída» e favoreça assim a resposta positiva de todos aqueles a quem Jesus oferece a sua amizade. Estas palavras antecipam o “projeto” subjacente ao caminho sinodal 2021-2024: um projeto que diz respeito, precisamente, à “transformação” dos estilos e das estruturas eclesiais, ou mais corretamente à sua “conversão”, em vista de uma ação pastoral mais aberta e extrovertida.

O objetivo do Sínodo é o de uma Igreja que, aprendendo no seu interior um estilo mais sinodal, seja por isso mesmo uma Igreja capaz de um testemunho mais credível e de um compromisso missionário mais eficaz no mundo. Também por isso o Sínodo, que tem o título “Por uma Igreja sinodal”, tem como subtítulo “Comunhão, participação e missão”. A palavra “missão” aparece por último, não porque seja menos importante, mas, pelo contrário, porque é aquela que, por assim dizer, “pressiona para o externo”, ad extra, em direção ao “mundo”. De certa forma, o Sínodo, como nova etapa na recepção do Concílio Vaticano II, está realizando um desenvolvimento, inseparavelmente teológico e pastoral, em torno da nossa concepção de missão.

Esquematicamente, poder-se-ia resumir este desenvolvimento em torno de algumas palavras-chave: 1) inclusão-periferia, 2) interculturalidade-descentralização, 3) participação-co-responsabilidade.

Um primeiro aspecto que o Sínodo traz à tona é a crescente tomada de consciência que a Igreja, se quiser ser fiel à missão recebida de Cristo, deve tornar-se mais capaz de inclusão. Muitas sínteses diocesanas, nacionais e continentais – que chegaram a Roma por ocasião das consultas 2021-2022 e 2023-2024 – apontam, não sem amargura, o problema de uma Igreja percebida como uma comunidade exclusiva e excludente: a Igreja das portas fechadas, das alfândegas e pedágios a serem pagos.

A inclusão não deve implicar, evidentemente, qualquer forma de irenismo, indiferentismo ou relativismo. O que precisa mudar não é o Evangelho, mas a nossa forma de anunciá-lo. A inclusão, precisamente na lógica própria do Evangelho, pede para ultrapassar as cercas, isto é, ir rumo às margens, às fronteiras, às periferias.

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