Leia, a seguir, a Homilia de Dom Arnaldo Carvalheiro Neto, Bispo Diocesano, na celebração da Solenidade de Nossa Senhora do Desterro, Padroeira da Diocese de Jundiaí, realizada na Catedral Nossa Senhora do Desterro, no dia 15 de agosto de 2024:
Amados Irmãos e Irmãs:
Este é o dia que o Senhor fez para nós! Alegremo-nos e nele exultemos! Celebramos hoje as maravilhas de Deus na vida da nossa Igreja Diocesana. Unimos nossas vozes para entoar, com Maria, a Virgem do Desterro, o seu Magnificat! “A minha alma engrandece o Senhor e exulta o meu espírito em Deus, meu Salvador! O poderoso fez em mim maravilhas, e Santo é o seu nome”.
São muitas as dioceses que no dia de hoje celebram Nossa Senhora como sua padroeira nos seus mais diferentes títulos: Nossa Senhora da Assunção, Nossa Senhora da Glória, do Paraíso, da Boa Viagem, da Boa Morte, da Guia, da Abadia, da Ponte e tantos outros. A nossa Diocese de Jundiaí, por sua vez, volta o seu olhar para a Virgem do Desterro, que atravessa o deserto a passos lentos, tendo ao colo o Menino Jesus e a companhia do seu dileto esposo São José, que vai silenciosamente alguns passos adiante, no caminho do exílio.
Com a Virgem do Desterro, caminhamos na estrada de Jesus!
Nossa Senhora do Desterro viveu uma longa jornada de peregrinação à exemplo de muitos dos nossos patriarcas e matriarcas da fé, ilustres personagens das Sagradas Escrituras. Eles peregrinaram na noite escura, enfrentaram o exílio e muitas perseguições. No entanto, jamais perderam a esperança porque seus passos eram sustentados pela fé na presença amorosa de Deus. Assim, “pela fé, Abraão obedeceu ao chamado de partir para o país que haveria de receber como herança. E partiu sem saber para onde ia. Pela fé, ele foi morar como estrangeiro na terra que lhe haviam prometido. Desejava uma pátria melhor, ou seja, a pátria celeste. Pela fé, Moisés abandonou o Egito sem temer a ira do rei, pois se agarrava ao invisível como se fosse visível. Pela fé, atravessou com o seu povo o Mar Vermelho como se fosse terra seca, enquanto os egípcios, tentando fazer o mesmo, se afogaram” (Hb 11). E muitos outros homens e mulheres do passado, caminharam e morreram na fé, sem contemplar a realização da promessa. No entanto, no momento em que Maria ofertou o seu “sim” a Deus, e consentiu receber a semente do Verbo Divino em seu seio virginal, abriu-se um novo tempo para toda a humanidade: nela o tempo alcançou a sua plenitude!
Agora somos todos peregrinos de uma nova estrada, ainda que também nós, como os nossos antepassados, caminhemos na penumbra da fé. Conforme escreve Jean-Yves Leloup, em seu livro “O Sentar e o Caminhar”: “Todo andarilho no deserto da vida tem necessidade de uma estrela para guiar o seu caminho. Todos nós temos a descobrir a estrela no coração do nosso ser mortal: ‘Se buscais a luz fora, em partes, vós deveis estar em grande erro, pois ela está inteiramente em vós e vos liberta totalmente’” (pp. 169-171). Maria é a estrela da manhã que norteia a jornada da nossa alma rumo à santidade, assistindo-nos com o seu coração maternal, permitindo-nos ir, ao mesmo tempo, de um ponto ao outro e reencontrar igualmente o ponto central, a bússola interior que está em nós e que nos mantém centrados.
Com a Virgem do Desterro, caminhamos na estrada de Jesus!
Caminhamos na fé, à procura de Deus. Mas não devemos procurá-Lo onde Ele mora, assim ensinava Abade Siso, famoso por sua sabedoria e ascese, aos seus monges no deserto. “Os monges – assim dizia ele – não devem imaginar Deus como uma pessoa que tem um lugar fixo de morada. Deus está em toda parte; Ele perpassa a natureza; Ele se encontra no coração do ser humano; Ele se faz presente na comunidade dos que rezam. Por isso, devemos desistir de fixá-lo num local e de procurar neste lugar. A procura de Deus requer, antes, que o procuremos sempre e em todos os lugares, mas sem pretender possuí-lo. A procura de Deus, ao contrário, significa que nós próprios não nos devemos instalar num local. Ainda que os monges vivam reclusos num mosteiro, e ainda que igualmente nós habitemos num endereço estável, todos devemos estar permanentemente a caminho. O caminho é interior, ele perpassa o coração. É nele que se estabelece o desafio de trilhar o caminho do exílio de volta para Deus. Estejamos atentos para nunca estacionarmos em nossa longa e penosa jornada” (Anselm Grün, Sabedoria do Deserto. pp. 132-133). Apoiemo-nos sempre no exemplo de Maria, a Virgem do Desterro, aquela que é a Mãe dos Caminhantes porque conhece, mais do que ninguém, o verdadeiro Caminho que conduz à vida.
Passo a passo, a oração percorre o seu caminho no coração de todos nós, que caminhamos para o céu. Como Maria, o peregrino caminha na presença de Deus e o fato de manter-se em sua Presença, de voltar incessantemente a Ele através da invocação, o transforma e o encaminha rumo à plenitude. O cristão não é um homem melhor do que os outros, nem mais inteligente, nem mais amoroso, apenas ele caminha com Alguém, ele mantém-se na sua Presença. É esta Presença, mais do que seus próprios esforços, que o transforma. Na Anunciação, o anjo Gabriel saudou a Virgem de Nazaré como mulher cheia de graça, porque o Senhor estava sempre com ela. Antes de gerar o Filho do Altíssimo em seu ventre, ela já o tinha consigo em seu coração.
Com a Virgem do Desterro, caminhamos na estrada de Jesus!
Desejo que toda a nossa amada Diocese de Jundiaí dê passos largos e seguros na peregrinação que nos conduz à nossa morada definitiva no céu, lugar que Deus preparou para nós. Para tanto, façamo-nos todos pequeninos como o menino Jesus, crescendo nas virtudes da humildade e da mansidão, para tomar o lugar dele ao colo de Maria, deixando-nos alimentar com o leite da sua ternura. Voltemos os nossos olhares para a Virgem do Desterro, que por sua íntima participação na História da Salvação foi “unida a Cristo por um vínculo estreito e indissolúvel” (LG 53). Ela sempre nos acompanha com o seu semblante de ternura, atraindo-nos a Jesus com os laços de amor e de humanidade. Hoje se cumpre em nós aquela antiga profecia do profeta Oséias: “Quando Israel era criança, eu já o amava, e desde o Egito chamei meu filho” (Os 11,1-4). Do mesmo modo, Ele nos chama a todos, seus filhos adotivos, a sairmos do Desterro, conduzidos pelas mãos seguras da nossa dileta padroeira, para irmos ao encontra de Jesus, nosso Salvador.
Neste ano dedicado à Oração, conforme nos pede o nosso querido Papa Francisco, em vista da celebração do grande Jubileu que acontecerá próximo no ano, preparemos o nosso coração para vivermos, com Maria, esse “tempo da graça” como “Peregrinos da Esperança” Que a Virgem do Desterro, mestra da contemplação, nos ajude a redescobrir o grande valor e a necessidade absoluta de uma vida piedosa, para que formemos uma grande sinfonia de oração e entoemos ao Senhor um cântico novo, de amor e de paz, que ressoe até os confins do universo, num grande louvor de ação de graças pelas maravilhas que Ele realiza em nosso favor!
Com a Virgem do Desterro, caminhamos na estrada de Jesus!
Rogai por nós, Santa Mãe de Deus!
Nossa Senhora do Desterro!
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO!
Dom Arnaldo Carvalheiro Neto
Bispo Diocesano