29 de março de 2024

Jundiaí /SP

A Solenidade de Corpus Christi na vida e na missão da Igreja

“Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que ele venha” (1Cor 11,26).

“Prezados irmãos e irmãs da Igreja de Deus que se faz presente na Diocese de Jundiaí:

O sacramento da Eucaristia é o “sacramento dos sacramentos”: Corpo, Sangue, Alma e Divindade, presença viva e real de nosso Senhor Jesus Cristo. É o sacramento do amor, descido do céu para nós; sacramento que cura, liberta e salva; que nos une em comunhão com Cristo e com nossos irmãos na mesma comunidade eclesial e nos torna participantes do seu Corpo e Sangue pela ação do Espírito Santo.

Jesus, reunido com seus apóstolos durante a Última Ceia, instituiu o sacramento da Eucaristia: “Tomai, comei; isto é meu corpo… Bebei dele todos, pois este é o meu sangue…” (cf. Mt 26,26-28). Desta maneira, fez com que os apóstolos participassem do seu sacerdócio da Nova e Eterna Aliança e mandou que fizessem o mesmo em memória dele. A palavra “Eucaristia”, derivada do grego, significa “ação de graças” e se aplica a este sacramento, porque nosso Senhor deu graças ao Pai, quando a instituiu. Além disso, porque o Santo Sacrifício da Missa é a melhor maneira de dar graças a Deus pela sua bondade infinita.

Naquela solene primeira Eucaristia, no cenáculo de Jerusalém, os apóstolos receberam coragem, força, inspiração, dinamismo para serem fiéis à missão que Jesus lhes confiou. E assim continua a ser hoje em cada Eucaristia que celebramos, pois “a Eucaristia é fonte e ápice não só da vida da Igreja, mas também da sua missão: ‘Uma Igreja autenticamente eucarística é uma Igreja missionária’… Não podemos abeirar-nos da mesa eucarística sem nos deixarmos arrastar pelo movimento da missão que, partindo do próprio Coração de Deus, visa atingir todos os homens; assim, a tensão missionária é parte constitutiva da forma eucarística da existência cristã” (Bento XVI, Exortação Apostólica Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis, n. 84).

Na quinta-feira, após a Solenidade da Santíssima Trindade, a Igreja celebra devotamente a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, festa comumente chamada de Corpus Christi, que foi instituída pelo Papa Urbano IV com a Bula Transiturus de 11 de agosto de 1264. A motivação litúrgica para tal festa é, indubitavelmente, o louvor merecido à Eucaristia, fonte de vida da Igreja. Nesta Solenidade, a Igreja presta à Eucaristia um culto público e solene de adoração, gratidão e amor, sendo a procissão de Corpus Christi uma das mais importantes em toda a Igreja espalhada pelo mundo inteiro. Contudo, a Solenidade de Corpus Christi também revela que o amor de Jesus é tão grande que precisa ultrapassar o espaço físico das igrejas e sair pelo mundo, pois, nessa procissão, o próprio Senhor, na Eucaristia, é quem peregrina pelas ruas e vai ao encontro de seu povo. É verdade que Jesus caminha diariamente, a todo o momento, ao lado dos seus, mas no dia de Corpus Christi, isso se torna visível e tem um caráter missionário.

Além disso, como “o amor de Cristo nos impele” (2Cor 5,14): o amor de Cristo, presente e vivo na Eucaristia, é a fonte de todo o dinamismo missionário da Igreja. É de Jesus Eucarístico que os discípulos missionários do Senhor recebem sua energia espiritual e a coragem de fé: “Poderia a Igreja realizar a própria sem cultivar uma constante relação com a Eucaristia, sem nutrir-se deste alimento que santifica, sem fundamentar-se sobre este alicerce indispensável para sua ação missionária? Para evangelizar o mundo, necessita-se de apóstolos ‘peritos’ na celebração, adoração e contemplação da Eucaristia” (São João Paulo II, Mensagem para o Dia Mundial das Missões, 29 de abril de 2004, n. 3c). Na Eucaristia culminam, pois, a evangelização, a catequese, o serviço fraterno, a caridade, a edificação do Reino de Deus no mundo e o ministério sacerdotal dos cristãos leigos e dos presbíteros. Portanto, é da Eucaristia que emanam a força e o compromisso da comunidade e de cada um de seus membros para seguir cumprindo, com mais empenho e eficácia, a missão recebida e celebrada.

Queridos irmãos diocesanos: fica claro, então, que Eucaristia e missão são realidades que se entrelaçam. Seria um grande erro pensar no compromisso eucarístico somente em relação à nossa santificação pessoal e à nossa comunhão fraterna no interior da comunidade, que é a Igreja. Esse Sacramento bendito nos impele para o mundo, para “as águas mais profundas” (cf. Lc 5,4), no testemunho fiel e autêntico ao Senhor Vivo e Ressuscitado. Assim, uma comunidade que celebrasse a Eucaristia fechada em si mesma, sem se preocupar com o anúncio e testemunho de Jesus ao mundo, sobretudo no serviço aos mais pobres, na defesa da justiça e da paz, na proclamação do Evangelho da vida e na denúncia de tudo quanto fira e contrarie o Plano de Deus para a humanidade, seria infiel à Eucaristia e indigna de participar dela.

Deste modo, a Eucaristia, como fonte da missão e vida solidária, é que indica o caminho do compromisso para todos os cristãos e cristãs: transformar a sociedade para que ela se torne “casa comum” de todos, onde todos possam ser acolhidos e incluídos como irmãos ao redor da mesma mesa. Eis por que a Eucaristia é a força que nos transforma, nos enche de confiança e entusiasmo pelo Reino de Deus, e fortalece as nossas virtudes; estimula a nossa caminhada na história e na dedicação diária e constante de cada um aos seus próprios deveres, na família, no trabalho e no empenho social e comunitário.

Como afirma o Papa Francisco: “A intimidade da Igreja com Jesus é uma intimidade itinerante, e a comunhão ‘reveste essencialmente a forma de comunhão missionária’. Fiel ao modelo do Mestre, é vital que hoje a Igreja saia para anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repugnâncias e sem medo” (Papa Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 23).

Queridos irmãos diocesanos: não esqueçamos também da dimensão mariana desta festa: cada coração pode tornar-se, pelas mãos de Maria, Mãe e Educadora, “a mulher ‘eucarística’”, uma custódia viva, transmitindo o amor de Deus na vida diária, em todos os lugares. Que a Solenidade de Corpus Christi se torne uma grande festa eucarística e missionária da “Igreja em saída”. Supliquemos ao Senhor que cada cristão viva um Corpus Christi diário, por meio de pequenas atitudes missionárias, levando Jesus no coração e na vida, como fez a Mãe de Deus. Peçamos a Virgem do Desterro, nossa querida Padroeira, que nos fortaleça a vivermos essas realidades.

A todos abençoo”.

Dom Vicente Costa
Bispo Diocesano

 

Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no whatsapp
Rolar para cima