A Direção Espiritual consiste na arte de guiar acertada e progressivamente as almas ao fim da vida espiritual, quer dizer, à perfeição; também pode definir-se como a ajuda que se presta a um cristão para que amadureça em sua fé e vida espiritual. Por isso, na direção espiritual deve existir a busca de sintonia com a mente e o coração de Deus, cultivada na solidão, no silêncio, no estudo profundo da Palavra de Deus, na comunhão e no secreto do quarto.
O objeto ou a matéria da direção espiritual são todos os assuntos relacionados a saúde da alma onde tem lugar o desenvolvimento da perfeição cristã, portanto, a direção deve obedecer a um movimento cadencial de crescimento constante. Não pode ser um processo fechado ou repetitivo; a cada etapa elementos novos devem ser visualizados de tal modo que favoreça o amadurecimento do dirigido e a elaboração de seu itinerário de fé e vivência humana. Assim, a direção espiritual não é: – atendimento pastoral ou existencial. Aqui poderíamos aludir aos ministérios de oração de cura interior e de libertação, onde as pessoas com problemas de aflição, angústia, doenças e desespero recebem inestimáveis ajudas espirituais e conforto através da oração e da evangelização pessoal. Essas ajudas não podem ser consideradas, de antemão, direção espiritual; – procurar um conselho pontual nem ficar pulando de padre em padre; – a mesma coisa que a confissão. Mas é verdade que no confessionário às vezes se abordam questões de direção espiritual, e uma reunião de direção espiritual pode começar ou acabar com uma confissão sacramental.
A prática da direção espiritual se desenvolve a partir de duas figuras: do diretor e do dirigido. A direção emerge daí: do diálogo estabelecido entre ambos. Na direção espiritual, o dirigido busca no orientador, de forma sistemática e profunda, indicativos para melhorar sua intimidade com Deus. Sabedoria e bom senso, além de um diálogo constante, franco e amoroso, são caminhos indispensáveis. Assim, para se ter uma direção espiritual eficaz é importante que, depois de ter escolhido conscientemente um diretor, o dirigido seja perseverante e combine com o diretor conversas periódicas.
No relacionamento dirigido/diretor, o dirigido não deve copiar o seu diretor. Há sempre o perigo de tornar-se uma fotocópia do diretor. O diretor mesmo deve ter o cuidado de não deixar que isso venha a ocorrer. O modelo será sempre Jesus Cristo. É para ele e, consequentemente, para suas virtudes, que o diretor deverá encaminhar o seu dirigido: “A evangelização do mundo contemporâneo será realizada somente a partir da redescoberta da identidade pessoal, social e cultural dos cristãos. Isto significa sobretudo a redescoberta de Jesus Cristo, Verbo Encarnado, único Salvador dos homens! Desta convicção promana a exigência da missão que urge no coração de cada sacerdote de modo todo especial e que, por ele, deve caracterizar toda paróquia e comunidade por ele guiada pastoralmente” (O Presbítero, Pastor e Guia da comunidade paroquial, n.29).
Pe. Enéas de Camargo Bête