Tema: “Mutirão pela vida por terra, teto e trabalho”
“Fazei justiça ao humilhado e ao pobre”(Sl 82[81],3b)
Prezados irmãos e irmãs da Igreja de Deus que se faz presente na Diocese de Jundiaí:
Pela sexta vez a Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) está organizando mais uma Semana Social Brasileira (SSB). Na verdade, este evento foi aprovado na 57ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, em maio de 2019, e segue até 2023. A SSB é uma iniciativa que se realiza no Brasil desde 1991, inspirada na experiência da Igreja Católica na Europa.
Por que realizar estas SSBs? Alguns podem pensar que a Igreja não deve se intrometer nas questões sociais. Porém, o projeto de Jesus Cristo é bem claro: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância” (cf. Jo 10,10). Os discípulos missionários do Senhor Jesus não podem se acomodar diante das injustiças e sofrimentos dos irmãos e irmãs que não têm onde morar, são excluídos do mercado de trabalho e não podem ter o alimento necessário para si e para as suas famílias. A fé em Jesus Cristo exige uma mística libertadora, do engajamento e de relacionar a dinâmica da fé com o compromisso social. O único mandamento que Jesus nos deixou é o do amor: amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo (cf. Mt 22,34-40). No Juízo Final seremos julgados a partir do amor ao “outro”, principalmente o mais sofredor e necessitado (cf. Mt 25,31-46).
A 6ª SSB traz como tema: “Mutirão pela vida – por Terra, Teto e Trabalho”. A inspiração deste tema vem de uma frase que o Papa Francisco tem repetido várias vezes, como, por exemplo, quando ele se dirigiu aos participantes do 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares (Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, 9 de julho de 2015), quando ele afirmou: “A Bíblia lembra-nos que Deus escuta o clamor do seu povo e também eu quero voltar a unir a minha voz à vossa: os famosos três “T”: terra, teto e trabalho para todos os nossos irmãos e irmãs. Disse-o e repito: são direitos sagrados. Vale a pena, vale a pena lutar por eles. Que o clamor dos excluídos seja escutado na América Latina e em toda a terra.” Portanto, estes três “Ts”, intimamente entrelaçadas entre si, representam, na verdade, portas de entrada para o bem-estar, a paz e a estabilidade que implicam uma cidadania justa e digna e o respeito dos direitos individuais e sociais.
Aprofundemos brevemente o significado de cada um destes três “T”.
(1) Terra: O bem-estar, a harmonia e a saúde do povo pressupõem o acesso ao solo, tanto no campo como na cidade. O que se vê, hoje em dia, é justamente o contrário. A concentração da estrutura fundiária, todo apoio dado ao agronegócio predominantemente de exportação dos nossos produtos em detrimento à agricultura familiar, a falta da demarcação da terra para as populações indígenas e a invasão de suas terras, o descaso pela Mãe Terra, nossa Casa Comum são problemas ainda muito graves em nosso país.
(2) Teto: Teto não se reduz a um simples abrigo. Uma casa digna ajuda também a manter a chama do calor humano e o conforto para a família. Ao privar de terra e do teto milhões de pessoas, criam-se os deslocamentos humanos de massa, crescem o número de pessoas e famílias que passam a migrar de lugar em lugar, sem ter onde repousar, cresce o número dos sem-teto, aumentam os perigos do vício e da saúde precária dessa gente.
(3) Trabalho: Infelizmente, o trabalho e o trabalhador sempre sofreram ameaças ao longo da história. De um lado, prega-se a plenos pulmões que o trabalho é a chave da vida e da história, de outro, porém, os protagonistas principais desse exercício milenar acabam sempre roubados do produto de suas mãos. No modelo econômico atual, as relações de trabalho entre patrões e empregados tendem a causar, ao mesmo tempo, a concentração de renda e a exclusão social.
Diante de tantos desafios, não podemos cair em um pessimismo que não nos ajude a caminhar e não nos ajude a nos organizar para enfrentá-los e superá-los. É preciso “esperançar” e lutar juntos para promover este mutirão pela vida que a 6ª SSB com a sua proposta por Terra, Teto e Trabalho nos oferece. Muitas vezes é um trabalho de base de “formiguinha”. Não é à toa que o símbolo das SSBs é o Gira Sol, que na cultura popular significa calor, felicidade, lealdade, entusiasmo e vitalidade, refletindo a energia positiva que emana do Sol e trazendo em sua cor amarela ou laranja das pétalas a sua energia que nasce para todas as pessoas, energia esta necessária para a construção das lutas cotidianas e para as grandes transformações estruturais necessárias para a sociedade do Bem Viver.
Na Diocese de Jundiaí a organização e a realização da 6ª SSB ficaram a cargo da Cáritas Diocesana e das Pastorais Sociais que integram o Fórum Diocesano das Pastorais Sociais. É importante salientar também que na Diocese de Jundiaí o primeiro “T” – “Terra” será trabalhado a partir da Segurança Alimentar, dado que aumentou muito a fome dos nossos pobres e necessitados.
Então, mãos à obra! Gostaria de contar com a colaboração de todos os queridos diocesanos e diocesanas, e não apenas com os integrantes das Pastorais Sociais. A 6ª SSB deve ser uma ótima oportunidade para mantermos os pés solidamente firmes no chão, caminhando juntos com aqueles que serão beneficiados com nossa ação, porém, sem imposição ou paternalismo; com os olhos vivamente abertos para a luz da Palavra de Deus, do ensinamento social da Igreja e para a realidade que nos provoca para a ação; com as mãos ativamente ocupadas nas atividades de transformação social e política; e com o coração ardente, com a mística e a espiritualidade que nos nutrem e nos fazem celebrar a vitória do Cristo Vivo e Ressuscitado sobre todo mal.
E a todos abençoo. Uma fecunda 6ª SSB para todos!