Da grandiosidade do Santuário Nacional de Aparecida à simplicidade da Capela da sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, também sob a invocação da padroeira do Brasil. Do grande encontro anual no Centro de Eventos Padre Vitor Coelho de Almeida à tela do computador ou do celular.
Com a celebração iniciou-se a primeira assembleia em formato totalmente remoto, onde foram convidados os 475 bispos titulares e eméritos, além de representantes de organismos e pastorais.
O tema central foi a Palavra de Deus, seguindo a proposta das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE 2019-2023). Além disso, os bispos aprofundaram também outros 30 assuntos previstos estatutariamente sobre a vida da Igreja e a evangelização no Brasil.
Falar da Palavra não é novo, segundo Dom Peruzzo. Ele enfatizava que “na tradição bíblica, palavra também é pessoa”. Estamos diante de um tema que nunca será suficientemente esgotado, insistindo em que a palavra cria proximidade entre quem escreveu e quem lê, o que mostra a importância da Palavra de Deus, de partilhar aquilo que é fonte de vida.
Dom Paulo Jackson destacou o “belíssimo movimento de leitura popular da Bíblia, no Brasil e América Latina” surgido da Dei Verbum, destacando a importância do Centro de Estudos Bíblicos – CEBI. Trata-se de fazer com que “a vida inteira da pessoa e das comunidades eclesiais missionarias, e também da própria pastoral e da missionariedade, tudo isso animado pela força da Palavra de Deus. O bispo de Garanhuns falou sobre os desafios para semear a Palavra de Deus, destacando a necessidade de descobrir a Bíblia como fonte de mudanças estruturais.
O objetivo é que “o povo tenha mais desejo da Palavra de Deus”, segundo Dom Armando Bucciol, que falou sobre os diferentes terrenos em que a Palavra de Deus deve ser semeada: na liturgia, destacando a importância da homilia, na ação missionária, na Iniciação Cristã- Catequese, na Piedade Popular, na família, nas juventudes, no diálogo ecumênico e inter-religioso, nos meios de comunicação, nos processos formativos, na presença nas periferias, dentre outros.
Nas perguntas dos jornalistas surgiram algumas reflexões dos bispos. Uma delas, cada vez mais presente na sociedade, é a polarização, que leva a refletir sobre os fundamentalismos, fruto das debilidades, visto por alguns como refúgio seguro e que pode ser considerado irmão do fanatismo, segundo o arcebispo de Curitiba. Ele insistiu em que os fanáticos não dialogam, destacando o papel da religião como poderoso meio de fundamentalismo. Por isso, insistiu na necessidade de despojar-se de convicções, na diferença entre experiência religiosa e experiência de fé. Segundo Dom Peruzzo, as agressões entre católicos têm como causa que eles ouvem pouco a Palavra e não se deixam inspirar nela.
Dom Paulo Jackson vê a polarização como fruto da resistência aos valores da modernidade. Ele denunciou o esfriamento do trabalho bíblico no Brasil, tendo se deixado de realizar o Mês da Bíblia em muitos lugares. Diante disso, afirmou que a Palavra pode ajudar a formar comunidades eclesiais missionárias vivas, animadas, entusiasmadas. A partir da experiência pessoal, acrescentada durante a pandemia, insistiu na necessidade dos bispos e a Igreja tornar mais presente a Palavra na internet.
O abuso e mal uso da Palavra está muito presente na Igreja, segundo Dom Armando, que refletiu sobre a homilia, que não é palestra. O bispo de Livramento de Nossa Senhora refletiu sobre os pregadores que ignoram a Palavra, inclusive nas TVs católicas, insistindo para que o povo seja franco com os padres e bispos para dizer que não é por aí. O bispo deu um conselho não exagerar no tempo e preparar durante várias horas de reflexão. Junto com a Palavra, destacou a importância da Pastoral da Escuta, de multiplicar mentes e corações que saibam de verdade escutar.