28 de março de 2024

Jundiaí /SP

A Teologia do Corpo (IV): A Solidão Original (2)

“Caros amigos, o segundo sentido da Solidão Original para o Papa São João Paulo II em sua Teologia do Corpo é que Deus nos mostra a beleza da complementariedade do homem e da mulher, pois se a solidão original é a busca de sentido da humanidade para a própria existência (vide o texto anterior), a unidade original revela a comunhão desejada por Deus desde o início. O homem torna-se imagem de Deus, pois, desde a origem, ele não é só a imagem que reflete a solidão de uma pessoa que rege o mundo, mas é essencialmente a imagem duma insondável comunhão de Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.

Assim, ao criar o homem, o próprio Deus percebeu que não era bom que ele estivesse só. Se permanecesse desta forma, não refletiria a Sua imagem. Por isso, Ele cria a mulher como sua “auxiliar”, justamente para se fazerem, reciprocamente, auxiliares na realização essencial do que é ser pessoa. “Desse modo, então, essas duas expressões, ou seja, o adjetivo ‘sozinho’ e o substantivo ‘auxílio’, parecem verdadeiramente ser a chave para compreender a essência do dom ao nível do ser humano, enquanto conteúdo existencial inscrito na verdade da ‘imagem de Deus’. De fato, o dom revela, pode-se dizer, uma particular característica da existência pessoal, ou mesmo da própria essência da pessoa. Quando Deus-Javé diz, ‘Não é bom que o homem esteja sozinho’ (Gn 2,28), ele afirma que, ‘sozinho’, o homem não realiza completamente sua essência. Ele a realiza apenas existindo ‘com alguém’ – e, colocado ainda mais profundamente e completamente, existindo ‘para alguém’. Essa norma do existir enquanto pessoa é demonstrada no Gênesis como uma característica da criação precisamente através do significado dessas duas palavras, ‘sozinho’ e ‘auxílio’. Elas apontam o quão fundamental e constitutivo é para o homem o relacionamento e a comunhão de pessoas. Comunhão de pessoas significa viver em um recíproco ‘para’, em um relacionamento de dom recíproco. E esse relacionamento é precisamente a consumação da solidão original do ‘homem’” (São João Paulo II. Discurso de 09/01/1980, §2).

Desta feita, a unidade original, através da masculinidade e feminilidade, revela a comunhão de pessoas e nos mostra a beleza da complementariedade do homem e da mulher. Segundo o Papa a expressão do Gênesis “os dois serão uma só carne” (2,24) chega ao seu ápice quando se realiza o ato conjugal. O comportamento humano, no ato conjugal, engloba a personalidade toda, pois nele se fundem o prazer carnal, a expressão do sentimento e a participação do espírito, viabilizando a capacidade humana de experimentar, por meio da corporeidade, o atributo nupcial como expressão do amor: “`O corpo, que expressa a feminilidade ‘para’ a masculinidade, e vice-versa, a masculinidade ‘para’ a feminilidade, manifesta a reciprocidade e a comunhão de pessoas. Ele as expressa através do dom enquanto característica fundamental da existência pessoal. Este é o corpo: uma testemunha da criação enquanto dom fundamental, e, portanto, uma testemunha do Amor como fonte de onde flui esse mesmo dom. A masculinidade-feminilidade – ou seja, o sexo – é um sinal original de uma doação criadora, e ao mesmo o sinal de um dom, do qual o homem, macho-fêmea, se torna consciente enquanto dom vivido, pode-se dizer, de modo original. Esse é o significado com o qual o sexo entra na teologia do corpo. É a descoberta do Significado ‘Esponsal” do Corpo`” (idem, §4).

Por fim, nesse amor, como cada cônjuge se torna um presente, um dom para o outro, e um dom completo, voluntário, consciente, Deus torna fecunda essa união em frutos magníficos como a realização pessoal, a realização mútua, a visão de sentido para a própria vida, e a abertura para a geração dos filhos”.

Pe. Enéas de Camargo Bête

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